segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Grazie, Signore...




Faz tempo que não escrevo. Acho que não escrevo porquê não tenho muito à escrever.

Escreveria por mania de esperar que da minha cachola surja alguma coisa maravilhosa, alguma Silmaril, alguma arte... mas infelizmente me faltam argumentos, me faltam pensamentos, me faltam notas, criatividade. Seria muito querer ser um gênio? Isso é demais? Quando foi que algum trauma me fez desejar ser muito bom? Quando foi que deixei de querer ser Isso para ser Aquilo?

Será que algum dia essa inveja vai se virar contra outros além de mim? Quando estiver enrijecido demais, curvado demais, seco e insatisfeito, destruído pelo desprezo que tenho por mim mesmo, pelas minhas inaptidões e falsas aptidões... Aí sim, azar de quem estiver por perto.

Azar de quem tiver talento.

De quem é a culpa? Certamente é da virtuose. PORQUÊ NÃO ME ESCOLHEU?!?!? Tinha que ser o Dave Grohl? Tinha de ser o Renato Russo? Tinha que ser o Brendan Manning, o Derek Webb, o Miguel de Cervantes, o Bob Kane, o Roberto Bolaños, Neil Gaiman, David Crane, Clive Lewis...
E esses agraciados se juntam so pra me ofender, pra me humilhar! Jars Of Clay, Switchfoot, August Burns Red, Aerosmith, Foo Fighters, Five Iron Frenzy... Se tornam meus deuses, e me negam todas a orações. Tudo o que fazem é me dar sonhos, lembranças de vidas que eu nunca vivi, melodias que eu nunca compus, erudição que eu nunca vou alcançar.


Que me façam então aceitar ser pequeno! Que me permitam ser feliz incompetente! Que me deixem tocar minha própria música! Que minhas sejam as notas, que de mim soem os arranjos... Que me deixem escrever minhas próprias linhas!
Que eu perceba a graça e agradeça à Deus por poder ouví-los.

Que nunca acabe o espanto. Que permaneça a perplexidade e o assombro. Que assim seja.

domingo, 22 de novembro de 2009

Ave do Norte


Gerson Borges



Meu coração é Ave do Norte
Migrando pra os Mares do Sul
Fugindo do frio que a tudo congela
E o tom da alegria nos leva
Meu coração bate as asas
E parte em busca de vida
Embora pareça escondida
Teima em voar

Meu coração persegue a rota
Que vai dar nos mares do Sul
Às vezes se perde ou confunde a paisagem
Mas segue em frente a viagem
Meu coração segue o rumo
E a reta do porto da vida
Embora correndo perigo
Teima em voar

Meu coração carrega consigo
Saudades dos mares do Sul
Do alimento farto, da festa das cores
Nas Terras cobertas de flores
Meu coração viajante
Aceita o convite da vida
Embora o chamem de louco
Teima em voar

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

domingo, 18 de outubro de 2009

Câncer



Há palavras que impossibilitam eufemismos.
Morte, guerra, destruição. Aids, Câncer, Solidão... Aids-Câncer... Aids-Câncer.
Palavras que trazem frio, pavor, falta de ar e angústia, palavras que gelam o espírito. Palavras impronunciáveis por aqueles que já as enfrentaram e sofreram seus efeitos. Quem nunca lutou contra algum desses gigantes inomináveis e nunca lidou com o terror da sua presença não conhece a sua força própria e valor. Bem aventurado quem nunca precisar dessa batalha!

O ABVD me trouxe isso a tona. A palavra câncer tomou uma amplitude muito maior e mais atordoante. É meu ponto fraco. É o Golias que degolo por precaução. É o que mais temo para meus amados. É o que me causa mais compaixão.

De uma ironia maligna, assim como um veneno fabricado pelo próprio corpo para destruí-lo, é causado pela evolução de um mundo que se destroi. O corpo danificado não consegue mais produzir saúde, e de si mesmo, decide pela eutanásia.
É o que me torna mais pessimista para as futuras gerações. Um legado angariado a gerações, um fruto cultivado por nós e nossos pais que a cada vez colhemos mais.

O que fazemos conosco? O que estamos fazendo com nós mesmos?
Um câncer.

Socorro Deus! Salve-nos de nós mesmos! Daquilo que fizemos pra nos destruir!







"¶ Vinde, e tornemos ao SENHOR, porque ele despedaçou, e nos sarará; feriu, e nos atará a ferida.

Depois de dois dias nos dará a vida; ao terceiro dia nos ressuscitará, e viveremos diante dele.

Então conheçamos, e prossigamos em conhecer ao SENHOR; a sua saída, como a alva, é certa; e ele a nós virá como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra."
Oseias 6.1-3

sábado, 3 de outubro de 2009

Ao Cristo Crucificado






Não me move, Senhor, para querer-te,
o céu que me hás um dia prometido;
nem me move o inferno tão temido,
para deixar por isso de ofender-te.

Move-me tu, Senhor, move-me o ver-te
cravado nessa cruz e escarnecido;
move-me no teu corpo tão ferido
ver o suor de agonia que ele verte.

Move-me ao teu amor de tal maneira,
que a não haver o céu eu te amara
e a não haver o inferno te temera.

Nada tens a me dar porque te queira
pois se o que ouso esperar não esperara,
o mesmo que quero te quisera.

A vida Ensina.




Se você pensa que sabe; que a vida lhe mostre o quanto não sabe. Se você é muito simpático mas leva meia hora para concluir seu pensamento; que a vida lhe ensine que explica melhor o seu problema, aquele que começa pelo fim. Se você faz exames demais; que a vida lhe ensine que doença é como esposa ciumenta: se procurar demais, acaba achando. Se você pensa que os outros é que sempre são isso ou aquilo; que a vida lhe ensine a olhar mais para você mesmo. Se você pensa que viver é horizontal, unitário, definido, monobloco; que a vida lhe ensine a aceitar o conflito como condição lúdica da existência.Tanto mais lúdica quanto mais complexa. Tanto mais complexa quanto mais consciente.Tanto mais consciente quanto mais difícil. Tanto mais difícil quanto mais grandiosa. Se você pensa que disponibilidade com paz não é felicidade; que a vida lhe ensine a aproveitar os raros momentos em que ela (a paz) surge. Que a vida ensine a cada menino a seguir o cristal que leva dentro, sua bússola existencial não revelada, sua percepção não verbalizável das coisas, sua capacidade de prosseguir com o que lhe é peculiar e próprio, por mais que pareçam úteis e eficazes as coisas que a ele, no fundo, não soam como tais, embora façam aparente sentido e se apresentem tão sedutoras quanto enganosas. Que a vida nos ensine, a todos, a nunca dizer as verdades na hora da raiva. Que desta aproveitemos apenas a forma direta e lúcida pela qual as verdades se nos revelam por seu intermédio; mas para dizê-las depois. Que a vida ensine que tão ou mais difícil do que ter razão, é saber tê-la. Que aquele garoto que não come, coma. Que aquele que mata, não mate. Que aquela timidez do pobre passe. Que a moça esforçada se forme. Que o jovem jovie. Que o velho velhe. Que a moça moce. Que a luz luza. Que a paz paze. Que o som soe. Que a mãe manhe. Que o pai paie. Que o sol sole. Que o filho filhe. Que a árvore arvore. Que o ninho aninhe. Que o mar mare. Que a cor core. Que o abraço abrace. Que o perdão perdoe. Que tudo vire verbo e verbe. Verde. Como a esperança. Pois, do jeito que o mundo vai, dá vontade de apagar e começar tudo de novo. A vida é substantiva, nós é que somos adjetivos. (Crônica de Artur da Távola)

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Mochilão.


Olá, tudo bem?

Esse post vai especialmente pra você, caso o leia. Te amo, e te conhecer foi um dos melhores prazeres da minha vida (mesmo que talvez nem tenha te conhecido).





Sinto ultimamente que nesse explêndido teatro da existência, designado por Deus, somos todos como caixeiros-viajantes. Trabalhadores autônomos. Alguns mais preocupados em viajar, outros em fazer negócios.

Dias atrás reví alguns colegas da faculdade e lembrei desse gosto de conhecer pessoas, estabelecer amizades, e também dos espirros de nostalgia que rolam quando eu abro as gavetas empoeiradas onde ficam os velhos amigos.
Mais memoráveis que as decepções, muito melhores que suas falhas, mil vezes mais excelentes que suas condições reais! Todos serão assim, desde que você não busque neles a perfeição.
É contrariante esse sentimento de que foram os melhores, de que as pessoas com quem se perdeu contato tinham uma imagem muito mais carregada das virtudes que elas realmente não tinham. Talvez isso nos sirva como um consolo por essas pessoas não nos acompanharem mais: nada como guardar só o que é bom.

Dias atrás tive consulta no pós transplante: a médica viu o ultimo exame pós-tmo que faltava ser apresentado. Ao analisá-lo, ela reveu todos os outros exames cuidadosamente, olhou pra mim e disse:


"-Olha Diogo, sem a avaliação do neurologista, você tem só mais dois meses"...


Ao ouvir isso eu imaginei: 'Man! Como essa frase poderia ser terrível, caso não fossem dois meses ATÉ a próxima consulta'. Isso me trouxe muita gratidão. Pela vida, por tudo. Momentos bons e maus.
Acho que é ai que fica uma formula (que nunca me mostrou ser falha) de transformar a forma de se relacionar com os outros caixeiros e, porque não, melhorar e revolucionar o mundo. De dar um jeito de amar ao próximo independentemente de como ele seja. Ser agradecido por tudo o que esses contatos nos proporcionam realmente faz com que olhemos a eles com uma perspectiva otimista, sem considerar os seus defeitos, o que nos faz aceitá-los até o ponto de conseguir amá-los.
Gratidão é também a principal moeda. Como diz o célebre filósofo Meu Irmão à partir do estudo dos comediantes das 'escolinhas do não-sei-lá-o-quê': "Dessa vida nada se leva!".
Mesmo as feridas e decepções que insintimos em carregar acabam sendo abandonadas em alguma parada das nossas aventuras, ou talvez trocadas por melhores experiências quando voltamos aos lugares onde elas se sucederam e reencontramos as pessoas que as deram origens.
O segundo cara mais esperto da história foi sábio o suficiente para conseguir tudo o que sua alma desejou, e depois de tudo, percebeu que isso é vaidade, fútil e cansativo como correr atrás do vento. Já o cara mais esperto, o n°1, percebeu que aquele que busca sua própria vida acaba por perde-la, e quem aceita perder o que lhe é próprio encontra a vida nisso.

Gratidão, cansaço, vaidade, vida.

Meu Deus! Eu sou um nada. Que bom ser um nada!!! Me traz espanto! Me lembro da minha pequenez no momento em que minha vida aqui na Terra começou. Não falo do meu nascimento, mas do momento em que o óvulo foi fecundado e começou o meu infinito processo de desenvolvimento. O mais glorioso de tudo é que isso só pôde acontecer porque eu fui um dos menores espermatozóides entre centenas de milhares. Rs, se houvessem outros espermatozóides lendo isso eu me gabaria pra eles!
Essa poderosa transformação me mostra que tudo o que eu tenho é de graça, e nada é meu. Tudo eu devo doar, deixando o que eu consigo com outros como presente por sua companhia nessa viagem, estando eles perto ou não, e que desses bens o mais precioso é a gratidão, que me tira todos os méritos e me deixa embasbacado com a tremenda evolução daquela celulazinha.
Esse principio da vida nunca havia me chamado a atenção, certamente porque não tenho nenhuma lembrança das minhas experiências naquela época, mas que foram as mais importantes pra determinar o que eu sou hoje.

Devo manter as malas prontas, porque continuo viajando. Quem sabe, logo mais irei embora denovo, e depois denovo, até que essas andanças acabem e eu chegue ao final do meu destino. Aliás, final não, para o verdadeiro começo que não terá fim. Para a vida que, assim como no útero, estou me preparando pra receber, cheio de gratidão.