sexta-feira, 30 de outubro de 2009

domingo, 18 de outubro de 2009

Câncer



Há palavras que impossibilitam eufemismos.
Morte, guerra, destruição. Aids, Câncer, Solidão... Aids-Câncer... Aids-Câncer.
Palavras que trazem frio, pavor, falta de ar e angústia, palavras que gelam o espírito. Palavras impronunciáveis por aqueles que já as enfrentaram e sofreram seus efeitos. Quem nunca lutou contra algum desses gigantes inomináveis e nunca lidou com o terror da sua presença não conhece a sua força própria e valor. Bem aventurado quem nunca precisar dessa batalha!

O ABVD me trouxe isso a tona. A palavra câncer tomou uma amplitude muito maior e mais atordoante. É meu ponto fraco. É o Golias que degolo por precaução. É o que mais temo para meus amados. É o que me causa mais compaixão.

De uma ironia maligna, assim como um veneno fabricado pelo próprio corpo para destruí-lo, é causado pela evolução de um mundo que se destroi. O corpo danificado não consegue mais produzir saúde, e de si mesmo, decide pela eutanásia.
É o que me torna mais pessimista para as futuras gerações. Um legado angariado a gerações, um fruto cultivado por nós e nossos pais que a cada vez colhemos mais.

O que fazemos conosco? O que estamos fazendo com nós mesmos?
Um câncer.

Socorro Deus! Salve-nos de nós mesmos! Daquilo que fizemos pra nos destruir!







"¶ Vinde, e tornemos ao SENHOR, porque ele despedaçou, e nos sarará; feriu, e nos atará a ferida.

Depois de dois dias nos dará a vida; ao terceiro dia nos ressuscitará, e viveremos diante dele.

Então conheçamos, e prossigamos em conhecer ao SENHOR; a sua saída, como a alva, é certa; e ele a nós virá como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra."
Oseias 6.1-3

sábado, 3 de outubro de 2009

Ao Cristo Crucificado






Não me move, Senhor, para querer-te,
o céu que me hás um dia prometido;
nem me move o inferno tão temido,
para deixar por isso de ofender-te.

Move-me tu, Senhor, move-me o ver-te
cravado nessa cruz e escarnecido;
move-me no teu corpo tão ferido
ver o suor de agonia que ele verte.

Move-me ao teu amor de tal maneira,
que a não haver o céu eu te amara
e a não haver o inferno te temera.

Nada tens a me dar porque te queira
pois se o que ouso esperar não esperara,
o mesmo que quero te quisera.

A vida Ensina.




Se você pensa que sabe; que a vida lhe mostre o quanto não sabe. Se você é muito simpático mas leva meia hora para concluir seu pensamento; que a vida lhe ensine que explica melhor o seu problema, aquele que começa pelo fim. Se você faz exames demais; que a vida lhe ensine que doença é como esposa ciumenta: se procurar demais, acaba achando. Se você pensa que os outros é que sempre são isso ou aquilo; que a vida lhe ensine a olhar mais para você mesmo. Se você pensa que viver é horizontal, unitário, definido, monobloco; que a vida lhe ensine a aceitar o conflito como condição lúdica da existência.Tanto mais lúdica quanto mais complexa. Tanto mais complexa quanto mais consciente.Tanto mais consciente quanto mais difícil. Tanto mais difícil quanto mais grandiosa. Se você pensa que disponibilidade com paz não é felicidade; que a vida lhe ensine a aproveitar os raros momentos em que ela (a paz) surge. Que a vida ensine a cada menino a seguir o cristal que leva dentro, sua bússola existencial não revelada, sua percepção não verbalizável das coisas, sua capacidade de prosseguir com o que lhe é peculiar e próprio, por mais que pareçam úteis e eficazes as coisas que a ele, no fundo, não soam como tais, embora façam aparente sentido e se apresentem tão sedutoras quanto enganosas. Que a vida nos ensine, a todos, a nunca dizer as verdades na hora da raiva. Que desta aproveitemos apenas a forma direta e lúcida pela qual as verdades se nos revelam por seu intermédio; mas para dizê-las depois. Que a vida ensine que tão ou mais difícil do que ter razão, é saber tê-la. Que aquele garoto que não come, coma. Que aquele que mata, não mate. Que aquela timidez do pobre passe. Que a moça esforçada se forme. Que o jovem jovie. Que o velho velhe. Que a moça moce. Que a luz luza. Que a paz paze. Que o som soe. Que a mãe manhe. Que o pai paie. Que o sol sole. Que o filho filhe. Que a árvore arvore. Que o ninho aninhe. Que o mar mare. Que a cor core. Que o abraço abrace. Que o perdão perdoe. Que tudo vire verbo e verbe. Verde. Como a esperança. Pois, do jeito que o mundo vai, dá vontade de apagar e começar tudo de novo. A vida é substantiva, nós é que somos adjetivos. (Crônica de Artur da Távola)