quinta-feira, 16 de julho de 2009

No More ABVD


Salmos 130

1 ¶ [cântico dos degraus] Das profundezas a ti clamo, ó SENHOR.
2 Senhor, escuta a minha voz; sejam os teus ouvidos atentos à voz das minhas súplicas.
3 Se tu, SENHOR, observares as iniqüidades, Senhor, quem subsistirá?
4 Mas contigo está o perdão, para que sejas temido.
5 ¶ Aguardo ao SENHOR; a minha alma o aguarda, e espero na sua palavra.
6 A minha alma anseia pelo Senhor, mais do que os guardas pela manhã, mais do que aqueles que guardam pela manhã.
7 Espere Israel no SENHOR, porque no SENHOR há misericórdia, e nele há abundante redenção.
8 E ele remirá a Israel de todas as suas iniqüidades.







Ontem era véspera de consulta de rotina no hospital. Iria buscar e apresentar resultados de exames que mostrariam o resultado de todo o tratamento até agora. Como de praxe, fiquei tão ansioso que não conseguia dormir. Lembrava de tudo pelo que eu passei até hoje: as sessões de quimio, as sessões da rádio, as internações, exames, conflitos psicológicos e os efeitos ruins de tudo isso, dos quais não quero falar agora. Imaginava com medo, se eu teria de passar por aquilo mais vezes... Nesses momentos de apreensão suspeita-se de tudo. Apesar de evitar pensar que sim, até concordei de que sentia minha barriga meio estranha, o que poderia ser o inchaço do baço (um dos primeiros sintomas de atividade da doença...). Aos poucos essas preocupações tomam conta da mente e vão te levando ao desespero.
Ao considerar que iria passar por aquilo de novo senti dor. Doía no meu animo, doía na minha esperança, doía no meu orgulho e no meu sorriso de ter que contar pra alguém que eu começaria tudo denovo. Não era como a dor física, como de levar um soco, mas a dor de saber que nada te protegerá da porrada que você está prestes à receber. Esse pensamento me fez refletir sobre a minha frágil condição: nossas labutas, nossas vaidades, aspirações, sonhos, e que tudo isso é tão palpável quanto um espírito. Em um acidente, em uma ventania, em um descuido, tudo pode ser lançado por terra. Coisa terrível de se pensar!!! Principalmente na véspera de uma consulta onde se vai saber a sorte da evolução de um tratamento contra uma doença tão maldita.
Lembrei de uma música que é idêntica a esse sentimento, Carmina Burana (do comercial de negresco) de Carl Orff... Como ela fala sobre a força do acaso contra os planos e curso da vida:

"(...)O destino está contra
Minha saúde
E virtude
(...)
Então agora
Sem demora
Puxe essa corda vibrante
Já que o destino
Extermina o forte
Chorem comigo!"

Fiquei imaginando como deveria ter sido pra (o camarada do desenho acima, ilustrado fantásticamente por Portinari.), que teve todos os motivos pra maldizer sua sorte, tantos conflitos por crer que o que lhe ocorrera não fora acaso, e sim a permissão do Todo Poderoso, e que Deus o punia por ser homem mal, mesmo quando sabia ser integro e desconhecia seu pecado - "Aquilo que eu mais temia, isso me aconteceu." - A frase da dor, que pra mim, deveria estar escrita no rodapé do quadro.
Ao lembrar do mano , lembrava também de outro oprimido pela vida, e também personagem bíblico, o rei Davi, escritor do Salmo acima citado. Viveu conflitos assim a vida toda, mas mesmo assim teve paz durante as adversidades. O filho mais novo entre sete irmãos, trabalhava na pecuária até ser inesperadamente determinado por Deus o segundo rei de Israel, foi perseguido por seu sogro durante toda a vida deste, sofreu um golpe de estado do seu próprio filho e enquanto estava refugiado nas montanhas, cercado de um lado pelos exércitos de Israel, comandados por seu sogro Saul, cego pelo ciúmes e ódio, do outro pelos filisteus que contaram muitas baixas afligidas pelos exércitos outrora comandados por Davi, pode compor: "O Senhor é meu pastor, e nada me faltará (...) AINDA que eu andasse pelo vale da Sombra da Morte não temeria mal algum, pois Ele está comigo."

Senti tanta paz que quase dormi na hora. Não fosse a alegria que eu senti, que me fez ficar rindo meio bobo, eu teria virado e descansado automáticamente. É lógico que não me lembro como/quando foi que eu peguei no sono, mas sei que ainda 'to meio bobo por conta dessa Graça maravilhosa, por ser tão frágil e tão levado em conta, ter passado por tanta dor e ao mesmo tempo estar certo de que o meu redentor vive e que com esses mesmos olhos deseperados, dos quais em breve ele enxugará todas as lágrimas, eu O verei.

2 comentários:

  1. Os exames não acusaram nada, fui liberado para passeios e aumentaram o período entra uma consulta e outra.

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  2. Diogo, escrevo para dizer que passei por aqui. Que bom que os exames não acusaram nada! Estimo melhoras, escreva quando quiser.

    Beijão,

    Adriana Buarque

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